segunda-feira, 11 de julho de 2011

74 - Uma noite de cristal


Paulo Portas esteve presente em Paredes em jantar comemorativo do aniversário da organização de juventude do seu PP. Foi no Hotel Zé do Telhado, no sábado dia 14 de Novembro. A informação colhida nos jornais nomeadamente no Público, no Diário de Notícias, no Novas e em testemunhos presenciais revelou-nos uma festa muito especial. Provavelmente era para ser um festejo comemorativo e também de congratulação pela vitória do Não ás Regiões. Foi seguramente uma pública exaltação do vinho tinto transformado em manjar de gargantas sequiosas.
O resto está escarrapachado nos jornais. Intitulados pelo líder de "geração livre", a centena e meia de jovens PP presente, em delírio gritou "livremente" palavras de ordem do tipo «Comunas para a Sibéria!», «Setúbal é do povo, não é de Moscovo» ou «PS é vacas loucas». Com a moderação, o bom senso e alguma loiça partidas, perante a complacência de responsáveis nacionais e regionais, orgulhosos desta militância «popular», a festa prolongou-se pela madrugada.
O vinho correu abundante e foi rei. O discurso de Portas saiu fluente e irónico, ao que consta. Mas a superior inteligência e clarividência tantas vezes apregoadas pelo próprio e pelos seus fãs afinal não passam de instrumento do extremismo de uma direita, sequiosa do reconhecimento de alguns dos seus «valores» como a agressividade, a boçalidade, a incultura cívica. Foi a Noite de Cristal possível dessa mesma direita. Certamente o verdadeiro responsável é Portas. Ele, qual candidato a caudilho, emérito encenador de todas as poses, de todos os discursos, de todas as posições públicas, ele foi certamente o produtor desta orgia báquica.
Igualmente se lamenta que tal tenha acontecido em Paredes. Não posso deixar de o lamentar por alguma gente alheia a este comportamento. É gente conservadora, de trato fino e urbano, respeitadora das opiniões contrárias, algumas vezes disponíveis para lutas comuns e debates complementares. De alguns, que considero amigos numa concepção alargada do termo, espero que percebam a razão de alguma contundência.
Mesmo recentemente o autor deste texto foi convidado por essa mesma estrutura juvenil para um debate sobre a Regionalização. Razões de agenda impossibilitaram-no de aceitar o convite. Certamente não seria para ser insultado por um grupo de jovens embriagados que o remetessem para a Sibéria das suas frustrações...
As estruturas locais do PP e da JP devem explicar-se e pedir desculpas publicamente. E um conselho àqueles jovens: bebam limonada ou só água até serem mais responsáveis. Vinho e actividade política não combinam, está?
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Cristiano Ribeiro, in Progresso de Paredes (1998)

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