quarta-feira, 28 de abril de 2010

23 - O mocho

Em Paredes dá-se um fenómeno curioso: há alguém que não desiste de nos contar o que se passa nas reuniões do Executivo e da Assembleia Municipal. Após essas reuniões lá vem a habitual crónica escrita.
Mas esses relatos são tão parciais e tão originais que me obrigam sempre a concluir que o autor de tão peculiares crónicas certamente não consegue ouvir convenientemente o que se passou.
Sinto-me portanto obrigado a propor uma solução logística aos Senhores Presidente da Câmara e da Assembleia Municipal. Por favor, em nome do bom nome dos políticos locais, instalem no meio dos lugares dos vereadores ou das cadeiras dos membros da Assembleia um banquinho para o nosso repórter politico – institucional.
Com um simples banquinho talvez o disparate e a mesquinhez se atenuem.
Apesar de não ter conseguido ser candidato, nem muito menos ser eleito, ele merece pelo menos a solidariedade de um mocho.

* mocho- versão popular de banco de madeira

22 - Eleições Autárquicas 2009 em Recarei


terça-feira, 27 de abril de 2010

21 - Os maus cheiros de Baltar







A Mini - ETAR de Baltar, construída pela empresa Águas de Paredes em 2005, pela sua localização e pelo seu funcionamento, merecido fortes críticas do PCP e por isso faz parte da agenda política do Partido em Paredes.
O Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território foi questionado pelo Deputado do PCP Honório Novo sobre a qualidade da água na Ribeira de Baltar resultante dos efluentes da ETAR. As consequências quanto aos cheiros e a qualidade do ar também têm peso.
A visita ao local efectuada em Setembro de 2009 pelo Deputado, com o contacto com a organização local da CDU e com as populações, suscitou o requerimento apresentado na Assembleia da República em 5 de Novembro de 2009.
O encerramento destas instalações parece inevitável e a sua substituição por instalações modernas e adequadas, ao serviço das gentes de Baltar. Os protagonistas dessa mudança são conhecidos. A luta continua!

sábado, 24 de abril de 2010

19 - Regionalização, oportunidade perdida (II)

No Vale do Sousa, debateu-se igualmente a Regionalização em 1998.
A Câmara de Lousada promoveu uma sessão com os deputados de então, José Calçada (PCP), Francisco Assis (PS), Torres Pereira (PSD) e Diogo Feio (PP). Em Paredes, foi a Associação Paredes Concelho de Futuro, que reuniu João Amaral (PCP), Alberto Martins (PS) e Carlos Brito (PSD).
Também aqui a separação então era nítida. Pelo SIM, defendeu-se o risco da mudança e o órgão de decisão intermédio, com competências até então inexistentes. Pelo NÃO, argumentou-se contra um pretenso “cheque em branco” ou “cartola”, encontrando-se como “soluções” a descentralização de competências para as Juntas de Freguesia e as autarquias, a democratização das CCR (Comissões de Coordenação Regional) com a presença dos Presidentes da Câmara nos seus Conselhos Consultivos.
Infelizmente o NÃO venceu nas urnas no Vale do Sousa com votações entre 65 e 71%. E a Regionalização foi adiada. O medo, e o conservadorismo, dominaram os Valesousenses. Os resultados estão aí.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

18 - O Euro e a CDU

Em 18 de Novembro de 2001, no âmbito das eleições autárquicas em Parada de Todeia, a CDU promoveu uma sessão pública de esclarecimento sobre a entrada em circulação do EURO. O salão da Junta de Freguesia de Parada de Todeia teve muitos interessados em se esclarecer sobre o Euro, sobre as notas e moedas em Euros que iam entrar em circulação, sobre o seu valor, sobre os prazos de troca das moedas e notas nacionais, nomeadamente dos escudos.
A CDU tinha entregue em cada casa da freguesia uma máquina de reconversão onde se podiam fazer exercícios práticos, que tornariam familiar a nova moeda e o seu valor.
A equipa de Álvaro Pinto, que se assumia como alternativa ao longo domínio do PS na freguesia, e contrariava a inércia então vivida, esteve muito perspicaz no esforço então realizado nesta iniciativa singular para uma candidatura autárquica. Só faltou (e isso era impossível) a denúncia das implicações da entrada do Euro na capacidade do nosso país em gerir autonomamente o valor da moeda. Vivíamos em plena euforia da moeda única.

domingo, 18 de abril de 2010

17- Regionalização, oportunidade perdida (I)

Quando algumas vozes, nomeadamente do PSD de Paredes, parecem querer fazer renascer o tema Regionalização, é conveniente recordar alguns debates públicos de 1998 e lembrar argumentos então assumidos pelas diferentes forças políticas.
Fora da região, relembre-se as muito longas sessões em duas freguesias de Matosinhos, Guifões e Custóias. Em 10 de Outubro de 1998, esteve presente em Guifões Cristiano Ribeiro pelo PCP, Guilherme Pinto e José Saraiva pelo PS, André Noronha pelo PP e Lurdes Sousa pelo PSD. Em principios de Novembro em Custóias Cristiano Ribeiro (PCP), Guilherme Pinto (PS), Nelson Cardoso (PSD) e Simão Granja (PP). A direita política representada então pelo PSD e PP, em campanha pelo NÃO à Regionalização, utilizou todos os argumentos, desde os válidos aos rotundamente falsos, passando pelos medos, ignorâncias e bairrismos locais.
Ouviu-se a acusação à Regionalização de “precipitada”, de “não prioritária”, de “não consensual”, de promotora de “despesismo estrutural”, de não alicerçada em “estudos”. Discordou-se do “mapa” proposto, do não conhecimento das “capitais das regiões”, do “calendário das transferências”, da “mobilidade dos funcionários”, dos “salários dos titulares dos cargos”, de uma “derrama inevitável”. Politicamente, a direita investiu na existência de um pretenso “negócio” entre PCP e PS, com o epicentro do pânico com a criação de uma região alentejana, “dominada” pelo PCP. Na dúvida, digo NÃO, proclamou o jovem PP em Custóias, julgando que alguém acreditava nas suas “dúvidas”.
A luz faltou ás 1h30m durante uma hora em Guifões e houve mosquitos por cordas em Custóias em sessão até às 4 horas. O conservadorismo juntou-se ao centralismo e ao oportunismo. Era líder do PSD Marcelo Rebelo de Sousa e lideravam o PP Paulo Portas e Manuel Monteiro. Tempos difíceis.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

16 – Diálogos com o Futuro (I)

Em 27 de Junho de 1997 decorreu nas instalações da Academia de Música de Paredes o 1 º Debate “Diálogos com o Futuro” promovido pela CDU de Paredes. Tratou-se de uma iniciativa aberta a pessoas de diferentes opções políticas e ideológicas e com o objectivo de debater os problemas locais e autárquicos do concelho de Paredes.
Álvaro Pinto, Presidente da Direcção da Cooperativa de Habitação Nova Amizade, de Parada de Todeia, falou sobre Associativismo.
O Eng. Fernando Moreira, responsável pelo Gabinete técnico do Vale do Sousa, falou de Planeamento Regional.
José Orlando Rocha, Director de Informação da Rádio Terra Verde e Chefe de Redacção do Jornal Novas, abordou o tema Paredes e a Imprensa Regional.
O Arq. Fernando Paiva Leal explanou ideias sobre Urbanismo, concretizando na apreciação de obras em curso.
José Manuel Oliveira, Advogado, e membro da AM de Paredes pelo CDS/PP, apresentou a sua perspectiva sobre o Papel dos Órgãos Autárquicos.
A sessão teve a intervenção inicial de Serafim Brás, membro da DORP e do CC do PCP e uma breve declaração de encerramento por parte de Cristiano Ribeiro, candidato á Câmara Municipal de Paredes pela CDU.
Este “Diálogos com o Futuro” teve a importância de abrir a discussão sobre problemas locais. E de mostrar a intervenção da CDU evidenciando a necessidade de representação eleitoral da CDU nas autarquias.

sábado, 3 de abril de 2010

15 - O Tsunami de Celso

No dia 28 de Junho de 2006, a Comissão Concelhia de Paredes do PCP deu uma Conferência de Imprensa, com a tomada de posição pública contra o fecho de Escolas no Concelho de Paredes. E anunciou a luta pela revogação da proposta da Carta Educativa do PSD, criada em conluio com o PS / Ministério da Educação.
Pretendia-se o encerramento de inúmeros Jardins de Infância (JI) e de Escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico (EB1) em 66 instalações do Concelho. Eliminava-se assim a existência de qualquer instalação escolar em 2 freguesias, Gondalães e Vila Cova de Carros, e da EB1 existente(s) em Astromil, Aguiar de Sousa, Vandoma, Parada de Todeia, Besteiros, Louredo e Madalena. Seriam assim afectadas 40% das freguesias do Concelho e uma população de cerca de 18% da população global do concelho.
Salientou então o PCP que a proposta se baseava em dados desactualizados do Censos 2001 e em previsões muito acertivas da população escolar do futuro a vários níveis de ensino, e não se adequava a critérios oficiais como Critérios de Reordenamento da Rede Escolar do Ministério da Educação, como a distância ideal casa-estabelecimento de ensino, número de salas de aula, número de alunos por turma, regime normal de funcionamento.
E denunciou o PCP, numa atitude de seriedade e coragem, que não tinham sido ouvidas as Juntas de Freguesia, nem ourtros interlocutores locais. E que se anunciava a descaracterização e despovoamento das freguesias lesadas.
Muitos inebriados pela “modernidade” da proposta aproveitaram para tentar isolar o PCP, colando-lhe uma visão retrógrada das políticas educativas
Assim começou a triste saga da Carta Educativa de Celso. Onde muitos deram o dito por não dito.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

14 - Um Morais na lama

Em Fevereiro de 2004 o Jornal Novas do Vale do Sousa trazia a notícia de que o Ministro da Presidência Morais Sarmento em digressão por terras do Vale do Sousa, mais propriamente por Vandoma, proferira uma declaração em que diagnosticara Alzheimer ao PCP por (cito) “ter perdido a memória com a queda do muro de Berlim e só acordar quando ouve falar na palavra greve”. Viviamos o consulado PSD de Durão Barroso.
Perante tão ofensivas e inapropriadas palavras, tanto para o PCP como para os portadores de tão grave doença neurológica, a Comissão Concelhia de Paredes do PCP emitiu um comunicado de repúdio em 17 de fevereiro de 2004, intitulado QUEM TEM ALZHEIMER?, de que se transcreve o essencial:

«...as palavras do ministro revelam uma atitude preconceituosa, reveladora de uma profunda ignorância e má-criação...

...o que incomoda essa gente é saber que as greves são sinais evidentes que os trabalhadores desaprovam a política governativa, que nem todos são ignorantes.

...pergunta-se onde estão as armas de destruição maciça do Iraque, ...se está satisfeito com o desemprego crescente, as dificuldades no acesso à saúde, se gosta de ver as Estações do CTT a fechar...

Pergunta-se a quem aplaudiu o ministro Morais Sarmento, que tipo de doença sofre? Alzheimer ? Ou Mediocridade Intelectual?
Pergunta-se ainda ao ministro Morais Sarmento se a sua “doença” tem origem genética ou resulta do consumo de drogas ilícitas?...».

A brincadeira do senhor Ministro teve a resposta adequada. O mesmo Morais Sarmento que referia recentemente o “mau hálito político de Cavaco”, numa pérola linguística decorada de “mau-gosto”, saiu então enlameado. Ou não fosse ele familiar do Visconde... do Banho.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

13 - O 25 de Abril, todos os dias



Para ser absolutamente sincero – e não faz sentido que dialoguemos com o leitor a não ser numa base de absoluta sinceridade – começo a ficar farto desta comemoração de apenas um dia, e ainda mais farto dos pedidos que me fazem para escrever um textozito a propósito. Para o 1º de Dezembro, ninguém me pede nada; o mesmo para o 5 de Outubro, e até para o 1.º de Maio. Mas quando se aproxima o 25 de Abril, é um autêntico corrupio! Então este ano – talvez porque 30 anos já conferem ao aniversário a respeitabilidade suficiente – tenho vindo a receber as solicitações mais diversificadas. Até me telefonou um velho amigo da Coimbra dos anos sessenta, que andou pelo MDP/CDE nos meses solares da revolução, e que eu já não vejo vai para quase 30 anos, e que, soube-o agora por ele, dirige uma folha de província na Beira Alta, na órbita financeira dos caciques democratas do PSD. "Escreve-me qualquer merda, pá, tu nem escreves mal, e a gente pode nem concordar com vocês, mas vocês, comunistas, têm do 25 de Abril uma experiência que mais ninguém tem". Bem tentei escapar-me, que ando muito ocupado com a profissão, que ele corria o risco de os amigos não virem a gostar do que eu escrevesse, mas ele nada, não se comoveu, e até perorou qualquer coisa sobre a evolução, e sobre cartazes, e sobre a democracia, e eu, coitado de mim, não fui capaz ou não tive coragem para lhe dizer que não. Lá lhe mandei o texto, tarde e a más horas, com a esperança difusa de assim lhe fornecer o pretexto para que não fosse publicado...
Mas verdadeiramente inesperado foi pegar no meu telemóvel, interromper aquele toque de chamada musical e parolo que nunca entendi como me caiu em sorte, e ouvir do outro lado "Estou a falar do «Mensageiro dos Pobres». O Doutor está?". O "Doutor" a que o «Mensageiro dos Pobres» se queria referir era certamente eu, e nada melhor do que este tratamento para ouvirmos com alguma atenção o que os outros têm para nos dizer. Mas que raio seria o «Mensageiro dos Pobres»?.. Cheirava a coisa antiga, por um lado, e, por outro, parecia-me contraditoriamente sofisticado que os pobres utilizassem um qualquer Mercúrio alado para fazerem ouvir os seus queixumes.
Com tudo isto, seguiu-se um longo silêncio depois do "O Doutor está?". Pelo que o outro lado se viu na obrigação de continuar: "Lembras-te" - passou do "Doutor" para o "tu"... - "lembras-te dos tempos da JEC?". (A JEC, ensino eu aos católicos e ateus incultos de hoje, era a Juventude Escolar Católica, por onde andei no então Liceu Nacional de Angra do Heroísmo). E o outro lado não parava: "Agora sou pároco aqui em (...), sei que foste Deputado do PCP na Assembleia da República, quero que me escrevas umas linhas sobre o 25 de Abril para o nosso jornalzinho, o «Mensageiro dos Pobres», ou tu julgas que os padres são todos uns reaccionários?.., eu sei que continuas no PC e és um tipo aberto, manda-me lá qualquer coisa, olha que tem de ser curto, se não o povo não lê, e manda-me isso já, toma lá nota do endereço: (...). Recebe um grande abraço, a gente depois volta a falar... E antes que desligue: lembras-te de quando a PIDE andou atrás de ti e eu te encafuei na casa paroquial?.. Foi de mestre!". E desligou. O que é mais engraçado nisto tudo é que lá lhe enviei o texto – "umas linhas", como ele me pedira – para o endereço que passei para o gravador do telemóvel, e ainda hoje não sei exactamente com quem falei. (Tenho dois ou três nomes hipotéticos na cabeça, mas prometi a mim mesmo que, se ele voltar a telefonar-me para o 31º aniversário, hei-de arrancar-lhe ao menos o nome. Já tenho projecto de vida com que me ocupar durante um ano).
O 25 de Abril, como vocês estão a ver, é verdadeiramente uma data mágica. Mágica – mas não o bastante. Porque não me telefonam apenas a pedir-me textos. O António ligou-me, como o faz sempre nesta época, desde há 30 anos... O tom da voz é cada vez mais empastado e há palavras que tenho ano a ano mais dificuldade em perceber. Fala-me mais com silêncios arrastados, guturalizados de quando em vez com restos de gritos que ele próprio já não ouve. Disse-me, desta vez (ou sou eu quem inventa o que ele me quer dizer...): "Vem aí o dia da libertação, camarada. Tu, eu, o Xico, o Zeca Beirolas e o outro-António, o alferes, lembras-te dele? temos de combinar beber umas cervejolas. No dia 24 acertamos, 'tá bem?". Já sei que, tal como nos 30 anos anteriores, eu e o António não nos vamos poder encontrar com os outros. O Xico, o Zeca Beirolas e o outro-António, o alferes, morreram na guerra em Moçambique, não houve para eles qualquer data libertadora. O meu amigo, este António que quase não consegue falar-me, é um sortudo, e a realidade há muito que já lhe não diz nada. O 25 de Abril é mágico – mas não o suficiente.
José Fernando Araújo Calçada
2004
(em “30 ANOS DE ABRIL, 30 TEXTOS”, Ed. FÓRUM)