sexta-feira, 26 de março de 2010

10 - O Octogenário



05/03/2010 por Ivo Rafael Silva

Nasceu há precisamente 89 anos. Desde então, tendo vivido tenazmente grande parte da sua história entre a prisão e a fuga, nunca perdeu forças e nunca foi verdadeiramente vencido. Resistiu heroicamente à atrocidade feroz dos atentados que lhe perpetraram sem dó nem piedade os seus declarados e fervorosos inimigos.
Não é, de resto, difícil arranjar-se inimigos numa sociedade formatada e condicionada como a nossa. Sobretudo quando se tem também por missão rasgar de alto a baixo essa espessa e tantas vezes conveniente cortina cinzenta, que 36 anos depois do 25 de Abril determina ainda grande parte do pensamento da esmagadora maioria dos portugueses.
Quem pode senão ser alvo da insolência e doutrinação de maldizer, do que esse octogenário que defende o valor da igualdade de direitos e oportunidades para todos, quando é precisamente essa falta de igualdade, esse selvático desenvolvimento económico do forte sobre o fraco, que constitui a espinha dorsal dos modelos de sociedade em vigor.
É, porém, de ataques e de confrontos que nasce e se fortalece a dura carapaça dos resistentes. Este octogenário a quem costumam declarar a morte, pelo menos, duas a três vezes por ano - e o raio da bandeira que não tomba nem por nada! - continua a ser uma pedra no sapato de muitos, mas sobretudo e elucidativamente, no daqueles que usam a política para se servirem a si próprios.
Não se confunda aqui inimigos com adversários. Adversários são aqueles para quem o respeito não se ausenta do combate político a nenhum momento. Inimigos são, desde logo, aqueles que em primeiro lugar não se respeitam nem sequer a si próprios, e a partir daí, nada de ético e respeitoso se pode esperar.
Esses inimigos, quadrados até ao tutano, mais aferrolhados em consciência que qualquer comunista em cárcere fascista, manter-se-ão na defesa de um qualquer outro partido que tendo ou não tendo substância ideológica-ideologia é coisa que não tem importância nenhuma e ainda que tivesse não poderia ser traduzida por desenhos, lhes trará contudo o conforto e a projecção individual. A capa, o embrulho, o status - arranjado - , será mais do que necessário para a salvação social daquilo que na substância não passa de um imenso vazio. Vazio esse que é tantas e tantas vezes posto a descoberto, mas nem sempre bem interpretado, por aquilo a comummente se chama - gaffe -.
Assim, amordaçado e vilipendiado, contudo resistente às mentes entorpecidas por esse estupefaciente chamado - preconceito - , o octogenário vive, luta e renova-se, chegando hoje perto das nove décadas de existência com um importantíssimo histórico de conquistas em benefício dos trabalhadores e do povo português. O Partido Comunista Português.


In adargumentandum.wordpress.com

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